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Manoel Junior era sobretudo um guerreiro
O ser humano duvida, mas a vida está sempre aprontando com os seus. Veja o caso do médico e político Manoel Júnior que se mostrava permanentemente preocupado com a saúde dos amigos, sempre intervindo e ajudando, e acabou perdendo a luta e a vida para um câncer. Logo ele que era sobretudo um guerreiro.
Essa – a de guerreiro – talvez seja a marca que mais define a trajetória desse paraibano que se revelava um apaixonado pela atividade política e que morreu aos 59 anos nesta terça-feira (28/02), ainda jovem para os padrões atuais.
Como guerreiro? A questão é que na política paraibana, como de resto em praticamente todo o país, especialmente no Nordeste, não é fácil ser político se não nascer com um sobrenome já consagrado nos grupos de poder e herdeiro de currais eleitorais, além de riqueza.
Como é natural nesses momentos, se se busca um legado de Manoel Júnior, sua própria história talvez preencha os requisitos procurados, porque foi ele próprio, com suas próprias forças, energia e trabalho, que construiu suas vitórias na política, que não são poucas.
Mané, como era chamado, não se destacou por posições políticas ou ideológicas, pela oratória (embora falasse bem); pela defesa de grandes teses ou projetos; pela apresentação de destacados projetos de leis; pela ocupação de cargos de decisão no Congresso ou na Paraíba, mas exatamente pela carreira política, tendo começado numa cidade pequena e se inserido nas rodas de poder da Paraíba.
Em 36 ou 37 anos de militância direta na política, Manoel Júnior foi eleito quatro vezes prefeito de Pedras de Fogo (apenas o último mandato, o de agora, ficou pela metade); exerceu um mandato de deputado estadual, tendo sido o segundo mais votado em 2002, com 35.160 votos; três mandatos seguidos de deputado federal e dois mandatos de vice-prefeito de João Pessoa. Em sua trajetória, perdeu apenas uma eleição (2018) e ficou apenas dois anos sem mandato eletivo.
Existem raras trajetórias assim para políticos que nasceram fora da manjedoura do poder na Paraíba.
O fato de ter sido escolhido em duas oportunidades pelo seu partido, o MDB, para ser candidato a vice-prefeito de João Pessoa, é indicativo de que o deputado Manoel Júnior ascendeu aos núcleos principais do poder na Paraíba. Aquelas alianças foram decisivas naquelas disputas eleitorais.
Não que Manoel Júnior não tenha conseguido destaque em sua atuação no campo político. O trabalho de prefeito o tornou líder número um em Pedras de Fogo. Na Câmara Federal, ocupou as funções de liderança em seus partidos ou blocos partidários em todos seus mandatos, chegou a relatar um projeto de lei de destaque nacional, que foi o da repatriação de divisas (dinheiro de brasileiros depositados em bancos no exterior), além de projetos de regulamentação funcional do TSE, da PRF e tribunais federais, sem contar os fortes embates políticos na Paraíba dos quais ele não fugia, destacando as disputas com o ex-governador Ricardo Coutinho e um extenso perrengue com o deputado Luís Couto (PT). Mas é a própria trajetória de vitórias eleitorais seguidas que marca sua vida política.
Vale frisar ainda que em dois momentos o deputado Manoel Júnior quase vira Ministro de Estado. Em 2011, chegou a ser indicado pelo MDB para o Ministério do Turismo da então presidente Dilma Rousseff (PT). Teria sido prejudicado por uma denúncia do deputado Luís Couto, numa CPI da Câmara, de que teria participação no assassinato de um vereador de Pedras de Fogo. No governo de Michel Temer chegou a ser cotado para o Ministério da Saúde.
Como guerreiro que era, sonhou ser senador e, notadamente, prefeito de João Pessoa. Tentou encurtar o caminho como vice-prefeito, mas acabou não se fazendo confiar pelas forças políticas no poder. Talvez pela própria trajetória pessoal de fazer se impor na política pelos seus próprios méritos. Talvez por ser meio pedra de fogo no temperamento pessoal e político. Talvez por ter nascido fora das manjedouras da política. Talvez um pouco de tudo.
De qualquer forma, a história política pessoal de Manoel Júnior é exemplo de um vencedor.
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Por que o União Brasil teve tanta pressa para se livrar de Brazão?
Por que o União Brasil agiu tão rapidamente e decidiu expulsar o deputado Chiquinho Brazão (RJ), acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco, apenas algumas horas depois de sua prisão. Um recorde na história política brasileira.
O relator do processo interno, em pleno feriado de domingo, foi o senador paraibano Efraim Morais, que não vacilou em recomendar a expulsão do parlamentar carioca dos quadros da legenda.
Lógico que as alegações da Executiva Nacional de que o crime do qual Brazão está sendo acusado implica em ato contra o Estado Democrático de Direito e contra a democracia e consiste em grave violência contra a mulher, o que fere preceitos do estatuto do partido, procedem e fazem sentido. O caminho mais correto foi seguido à risca.
O União Brasil agiu rápido para evitar desgastes de imagens da legenda, sobretudo, para não permitir que se alargasse a impressão que a sigla, originária dos velhos PFL é Democratas, continuava abrigando antigos coronéis e políticos corruptos e violentos.
Agiu também como uma forma de passar a ideia que o partido atua de acordo com um novo momento da história e dar exemplo em meio a uma conjuntura bastante melindrosa para os partidos políticos.
Além disso, percebeu que o caso Marielle Franco vai continuar tendo repercussão nacional e gerando comoção social. Não dava para continuar misturado à violência que, lamentavelmente, desgraça o Rio de Janeiro.
Mas a decisão traz embutido também o tradicional pragmatismo dos velhos partidos nacionais. A manutenção da prisão de Chiquinho Brazão parece inevitável em votação a ser feita na Câmara dos Deputados nos próximos dias. A cassação de seu mandato também. O União não quer ficar nenhum um dia sem um voto no Congresso. A expulsão vai permitir a imediata convocação do suplente. Bem melhor do que deixar o deputado preso continue no abrigo do partido como quase sempre ocorreu, em todos os tempos, no Brasil em casos semelhantes.
Os tempos, de fato, estão mudados.
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Planos e metas do bolsonarismo para a Paraíba
O bolsonarismo já definiu o que quer da Paraíba nas eleições de 2024 e 2026, uma fazendo escada para a outra. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro monta seu projeto político.
A primeira parte do plano está se concretizando com certo sucesso. Diz respeito à costura da unidade de todas as forças bolsonaristas na grande João Pessoa, onde o esquema se deu muito bem nas eleições de 2022.
Repassando: nas urnas, Bolsonaro perdeu por menos de mil votos (925) de maioria para Lula; o candidato a governador Nilvan Ferreira foi o mais votado no primeiro turno na Capital, com 31,10% da votação , repetindo o feito nas cidades de região metropolitana; o pastor Sérgio Queiroz foi o candidato a senador mais votado em João Pessoa, obtendo quase um terço dos votos (27,99%), e os deputados Cabo Gilberto e Walber Virgulino foram os mais votados na Capital, um com 58.308 votos e o outro com 31.463.
Pelos últimos acontecimentos, o núcleo estratégico do PL parece ter percebido que seria um equívoco colossal não reaglutinar suas forças na grande João Pessoa. Não conseguiu resgatar Nilvan Ferreira, excluído pela candidatura do ex-ministro Marcelo Queiroga, mas, mesmo assim, a intenção de agora é mantê-lo por perto, apoiando sua candidatura em Santa Rita. Em nome do projeto nacional, não houve dúvidas da necessidade da remoção do deputado Wellington Roberto do controle do partido na região. Ele vai espernear, mas não tem muito o que fazer.
O sucesso pleno da primeira parte do plano passa por integrar ao grupo o pastor Sérgio Queiroz, que, em 2022, disputou a eleição em faixa própria. A ideia parece ser a de convencê-lo a ser candidato a vice-prefeito ou simplesmente apoiar a candidatura de Queiroga. A retribuição seria a unidade de todos da direita no apoio à candidatura de Queiroz a senador em 2026.
O ex-ministro Marcelo Queiroga, ao festejar as nomeações dos deputados Cabo Gilberto e Walber Virgulino para a presidência do PL em João Pessoa e Cabedelo, na euforia que o ativa no momento, acabou entregando as metas do núcleo bolsonarista na Paraíba: eleger 30 prefeitos e um senador conservador em 2026. Lógico que Bolsonaro sabe que contará também com outras forças do Estado nas próximas eleições gerais.
Qual o principal foco do plano? A eleição de um senador conservador em 2026. Por que isso? O plano de Bolsonaro é contar com uma maioria no Senado capaz de agir contra o STF (Supremo Tribunal Federal), seja com impeachment de ministros ou a modificação de sua composição, com a criação de mais vagas na Corte ou ações parecidas. O STF, com o ministro Alexandre de Morais, parece ser a grande fixação de Bolsonaro. Tanto que a meta das metas é conquistar a maioria no Senado.
Nesse contexto, o pastor Sérgio Queiroz é mão na roda, uma vez que ele sonha em ser senador da República. Assim, não está difícil fechar um acordo para as eleições municipais, incluindo-o como prioridade para 2026.
O bolsonarismo se reorganiza com disposição e tem foco e metas bem delineadas. O plano para a Paraíba é simplesmente esse aí.
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Começa se fechar ciclo de definições partidárias na Paraíba
* Por Josival Pereira
Começa e se fechar na Paraíba o primeiro ciclo de definições para a campanha eleitoral de outubro, que é o prazo final para filiações partidárias e a definição do domicílio eleitoral, até o dia 5 de abril.
O movimento de mudança de partido para aqueles que desejam ser candidatos a prefeito ou vereador vinha ocorrendo lentamente desde o fim de 2022, mas ganhou intensidade nos últimos dias. Provas dessa intensidade são anúncios diários de troca de legenda e, nesta segunda-feira, o ato coletivo de filiações ao PSB, comandado pelo governador João Azevedo.
Quem está em vantagem nesse movimento?
Ainda não é possível fechar o balanço e anunciar o lucro concreto de cada partido, mas já dá para afirmar que o movimento, até agora, indica aquilo que já se desenhava: o PSB do governador João Azevedo é a legenda que mais atrai prefeitos e pré-candidatos a prefeito, seguida, sem ordem de grandeza, por Republicanos, MDB e União Brasil. O Solidariedade tem aproveitado as sobras e o Progressistas se segura e tenta avançar nos apertados.
Noutro patamar, os pequenos partidos crescem em número de candidatos a vereador, que buscam legendas que possam oferecer o coeficiente eleitoral adequado a cada um.
A percepção que vai ficando com a disputa entre os partidos por novos filiados é a da consolidação de um quadro de disputa multipolarizado, com vários partidos avançando em nacos do poder municipal como forma de se preparar para as eleições de 2026.
As últimas eleições municipais já pulverizaram o poder entre quatro ou cinco partidos, praticamente eliminando a bipolarização entre duas grandes forças políticas que reinou durante anos no Estado.
O PSB, liderado pelo governador João Azevedo, já conta com o maior número de prefeitos (cerca de 80), tendo recebido o espólio do Cidadania e migração de diversas outras legendas. Deve sair da campanha com um contingente bem alentado. O governador João Azevedo tem se empenhado pessoalmente na definição de candidaturas nos mais diversos municípios.
Difícil saber p número atual de prefeitos por partido por causa da migração, mas vale lembrar, por exemplo, que o União Brasil (antigo DEM) elegeu 25 prefeitos em 2020 e ganhou, de lá pra cá, a filiação de Bruno Cunha Lima, prefeito da segunda maior cidade do Estado (Campina Grande). O PSDB elegeu 27 prefeitos, mas encolheu e, agora, tem somente 11; o MDB elegeu 10 e, ao contrário dos tucanos, já tem mais de 30; o PP elegeu 21 e o Republicanos 17. São partidos que seguraram seus quadros e ainda ganharam reforços. O PL elegeu 22, mas perdeu vários prefeitos.
Esse quadro serve traçar um panorama perspectivo das eleições deste ano. É provável que a eleição produza um mapa parecido com o atual, se não no número de prefeito eleitos, mas no quadro de distribuição. Dá para sondar, com boa margem de acerto, que o PSB vai eleger o maior número de prefeitos e, com certa distância, vão chegar o União Brasil, Republicanos, MDB e Progressistas, além do Podemos e do PL, sem, no entanto, ser possível especular a força quantitativa de cada um.
De qualquer forma, a perspectiva concreta é que o poder municipal na Paraíba seja pulverizado entre essas forças partidárias mencionadas, que vão disputar o poder estadual em 2026.