Nonato Guedes

A estratégia do senador Veneziano Vital do Rêgo, candidato do MDB ao governo da Paraíba, de apostar suas fichas no apoio exclusivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à sua postulação não produziu ganhos mais expressivos na reta final da campanha que se desenrola, a ponto, por exemplo, de impulsioná-lo ao segundo turno que já está desenhado no radar. De acordo com a segunda pesquisa do Ipec, contratada pela TV Cabo Branco, Veneziano ganhou apenas um ponto, saindo de 14% para 15%, enquanto o governador João Azevêdo (PSB), que também é da base “lulista”, mantém-se na dianteira e somou mais três pontos percentuais, passando de 32% no primeiro levantamento para 35%. A outra oscilação vantajosa na apuração de intenções de voto favoreceu, mesmo, o deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que parece estar atraindo votos de bolsonaristas, mesmo não sendo o candidato oficial do presidente Jair Bolsonaro (PL), que apoia Nilvan Ferreira.

Com a briga no PSDB que levou os ex-governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) a abandonarem a corrida pelo Planalto, Pedro Cunha Lima ficou aparentemente sem um candidato a presidente da República para chamar de seu, já que não quis entrar em bola dividida com Nilvan Ferreira. No final das contas, Pedro passou a ter dois candidatos a presidente – Simone Tebet (MDB), em quem vota e com quem o PSDB nacional se coligou, e Ciro Gomes, do PDT, ambos recepcionados pelo tucano em eventos-relâmpagos promovidos em Campina Grande. Ciro estava na iminência de não ter um palanque no Estado, diante da desagregação nas hostes locais, até que o professor André Ribeiro habilitou-se a concorrer ao Senado e anunciou apoio à candidatura de Pedro Cunha Lima, cujo candidato principal é o deputado federal Efraim Filho, do União Brasil. Avalia-se que Pedro, pela postura mais moderada e por não ter afinidades com o PT, cresceu em meio à desidratação da candidatura de Nilvan Ferreira, prejudicado por desavenças internas no PL que ocasionaram fraturas expostas perante a opinião pública.

Há que se ressaltar, ainda, que, no campo da oposição estadual, Pedro Cunha Lima conta com o reforço do prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, do ex-prefeito Romero Rodrigues e de outros líderes do entorno do seu “clã” familiar, além de ter um cabo eleitoral influente nas articulações de bastidores e na montagem estratégica da campanha, que é o seu pai, Cássio, ex-governador e ex-senador. O desafio de Pedro, num primeiro momento, é o de ampliar mais a vantagem que experimenta na disputa e trabalhar com vistas a agregar apoios num segundo turno em que venha a dar combate ao governador João Azevêdo, que parece consolidado em uma das vagas da rodada decisiva. Esse desideratum exigirá habilidade de Pedro para se entender tanto com Nilvan Ferreira como com Veneziano Vital do Rêgo. Há quem ache que o diálogo mais difícil é com Veneziano, o que não impede que eleitores do senador emedebista, por decisão própria, migrem para Pedro, sobretudo em Campina Grande, onde o bairrismo é acendrado na política e no futebol.

Quanto a Veneziano, talvez tenha perdido a visão geral do cenário de correlação de forças políticas da Paraíba, obcecado que esteve em ter a “exclusividade” do apoio de Lula, como uma vitória pessoal sobre o governador João Azevêdo, com quem rompeu a aliança firmada na campanha de 2018. Veneziano fez de tudo para isolar Azevêdo na base lulista, chegando a entrar com ação na Justiça para impedir a veiculação de imagens associando o governador ao candidato do PT. Respaldado por interlocutores petistas paraibanos de prestígio junto a Lula, como o ex-governador Ricardo Coutinho, conseguiu atrair Lula para um único evento de campanha até agora, na cidade de Campina Grande, onde teve a confirmação do apoio do líder das pesquisas no país. Além disso, abusa de imagens ao lado do presidenciável petista e não foge de compromissos da agenda nacional, como o encontro em São Paulo, esta semana, para definir estratégia unificada na reta final dos candidatos apoiados por Lula.

Na formação de sua chapa para concorrer às eleições na Paraíba, Veneziano fez concessões generosas ao Partido dos Trabalhadores, cedendo a vaga ao Senado para Ricardo Coutinho, mesmo com ameaça de inelegibilidade da postulação dele, que continua em pauta e cedeu, igualmente, a vaga de vice para o PT, influenciando para que o nome escolhido fosse o da professora Maísa Cartaxo, mulher do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, em movimento para alargar sua capilridade em termos de votos na Capital paraibana. Há uma expectativa sobre o que pode ser ‘provocado’ por Veneziano na estratégia finalíssima para alavancar a candidatura neste primeiro turno, mas alguns analistas avaliam que seu campo de manobra está se esgotando, o que não diminui a sua importância no contexto de um segundo turno, mesmo não sendo postulante ao governo estadual.